A repórter Mariana Valadares Zitto entrevistou a tradutora de textos para dublagem (audiovisual), Cristina Nastasi, para explicar como funciona a dublagem de filmes e seriados de TV, e saciar nossa curiosidade:
1. A área de tradução para dublagem de filmes é pouco conhecida pelo público. Sabe-se que em dublagem os diálogos originais são substituídos por gravações traduzidas em outra língua, procurando respeitar os movimentos labiais, a duração, a entonação das falas. Como é feito esse trabalho? A dublagem é uma mistura de arte e técnica. É arte porque o dublador é um ator, tem de ser ator, e interpreta apenas com a voz, o que me parece terrivelmente frustrante, pois a maioria, por não ter seu rosto conhecido, não recebe o devido aplauso por seu talento. É técnica, porque o dublador, além da formação artística, precisa saber com perfeição “correr atrás dos lábios de outra pessoa”, isto é, passar a emoção com sincronia, fazendo com que as palavras em português caibam direitinho em lábios que falam inglês ou outro idioma. É preciso ter um timing perfeito, e também é preciso ter um diretor que saiba trabalhar esses dois lados, o artístico, e a técnica de fazer a fala não ficar mais curta ou longa demais na boca do ator na tela.(...) |
Costumo dizer que a boa dublagem é a aquela que não é comentada, pois o que as pessoas gostam de fazer é criticar quando o trabalho está ruim. Há, inclusive, uma má vontade por parte da imprensa de um modo geral que adora atacar a dublagem brasileira, que - pouca gente sabe - é considerada uma das melhores do mundo. Há dublagens que simplesmente fazem o original ficar muito melhor, como “A Gata e o Rato”, “Primo Cruzado, “Alf, o ETeimoso” e “Família Dinossauro”.
Há também traduções e dublagens atuais sensacionais como “Tal mãe, tal filha” (“Gilmore Girls”) e “Eu, a patroa e as crianças” (“My wife and kids”). Para piorar as coisas, a geração da TV a cabo desvaloriza totalmente esta arte e diz que legenda é melhor. Tudo bem, pelo preço que pagamos pela assinatura, o certo seria termos direito a filmes, séries e documentários tanto legendados como dublados, enfim, opções para todos. Uma parcela mínima de pessoas que sabem inglês (ou pensam que sabem, o que é mais comum) ignora que, além da existência dos cegos, dos idosos que não enxergam muito bem, das crianças que ainda não aprenderam a ler, do cidadão analfabeto pleno, a maior parte da população brasileira é de analfabetos funcionais, isto é, foram à escola, aprenderam a ler, mas não conseguem ler direito, muito menos legendas que ficam tão pouco tempo na tela. No fim das contas, a dublagem é marginalizada, incompreendida e desmerecida. Sequer tem um história registrada, o que faz com que muito de sua memória esteja condenada ao esquecimento. As redublagens, por exemplo, apagam o registro histórico do trabalho de profissionais do passado, e até fico incomodada que a categoria não perceba isso e faça alguma coisa para reverter esta situação. Felizmente estão sendo lançados boxes de DVDs com dublagens originais, o que garante que o talento de dubladores como os falecidos André Filho (ele fazia de tudo, do galã de “Casal 20” ao sotaque delicioso de um Sean Connery) ou Marcos Miranda (Clark Gable) seja preservado para a posteridade.
Assistam uma hilariante dublagem a seguir:
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